João 1:1-14
Segunda: Mateus 1:18-25;
Terça: Lucas 1:26-38;
Quarta: Lucas 2:1-20;
Quinta: Filipenses 2:5-11;
Sexta: 1 Timóteo 3:14-16;
Sábado: 1 João 4:1-6;
Domingo: 2 João 1
Deus se fez homem! Essa afirmação é o maior
mistério da fé cristã. Por mais que nos esforcemos, não conseguimos compreender
plenamente a realidade da encarnação de Cristo. William Temple, arcebispo da
Cantuária, disse em uma de suas obras que, “se um homem afirmar que entende a
relação da Divindade com a humanidade de Cristo, demonstra simplesmente que não
compreende o significado da Encarnação e da Expiação.” Entretanto, mesmo em
face dessa dificuldade para o pleno entendimento, não significa que nada possa
ser dito a respeito de tal assunto. Isto até
porque as coisas espirituais são aceitas pela fé e não pelo nosso entendimento,
já que, se mal compreendemos as coisas terrenas, como entenderemos com relação
às coisas espirituais na atual condição em que estamos?
O fato é que Deus assumiu a forma humana.
Preparou o tempo da encarnação e, na “plenitude dos tempos” (Gálatas 4:4), ou
seja, quando as pessoas estavam prontas para receberem o Messias, isso
aconteceu.
No século I existiram os gnósticos que
procuravam afirmar que a encarnação não existiu (1 João 4:1-3), pois para eles
a matéria é essencialmente má e suscetível às enfermidades e, desta forma,
Jesus não poderia ter assumido esta natureza. Os próprios espíritos malignos
não confessam que o Senhor veio em carne, pois para eles isto é uma grande
humilhação, já que Jesus os venceu sendo homem e não Deus. Os apóstolos sempre
ensinaram este grande mistério: “o Verbo se fez carne” (João 1:14; Filipenses
2:7,8; Romanos 8:3; 1 Pedro 3:18; 4:1).
A igreja cristã, mais tarde, afirmou a
realidade da encarnação. Isto se deu no ano 451, no Concílio da Calcedônia. As
naturezas divina e humana estavam unidas na pessoa de Jesus Cristo, embora o
Senhor nunca tenha usado da natureza divina enquanto viveu como humano aqui
(Filipenses 2:6-8), mesmo tendo sido tentado a isto (Mateus 4:3-6; 27:40). Se
de fato Ele cedesse à esta tentação ao usar os poderes de Filho de Deus, jamais
poderia nos representar no Calvário, pois para substituir o ser humano somente
um outro igual, ou então o sacrifício não seria aceito.
Na encarnação, o Senhor da História entra
na história humana, não como uma energia ou um fantasma, mas como um homem
real, de carne e osso. Esse fato torna ímpar a religião cristã. Por amor, Deus
desce da sua glória e majestade, faz-se carne, assume a condição humana para,
de maneira plena, revelar-se aos homens. Por este motivo, o Filho de Deus se
tornar humano é loucura para os gregos, que sempre viam em sua religião os
homens se tornando deuses e não o contrário. Seus falsos deuses nunca tiveram
real compaixão e interesse pelos homens, sendo que, ao ouvirem
a Verdade do Evangelho, ficavam impressionados.
Segundo os professores Juan Mateos e Juan
Barreto, “o projeto divino realizou-se em uma existência humana, a plenitude da
vida brilha em um homem, é visível, acessível, palpável.”
Assim, este estudo tem como objetivo
apresentar a razão e o resultado da encarnação de Cristo enfatizando que a
encarnação é modelo e desafio para a igreja em missão no mundo.
A partir da realidade da encarnação do
Verbo, podemos tecer as seguintes considerações:
1.
Morada de Deus entre o seu povo
O
Senhor Jesus Cristo afirmou que o Reino de Deus está dentro do coração (Lucas
17:21). Deus está presente no Universo, mas também se faz presente na vida
humana. Habita num alto e santo lugar, mas também junto com aquele que se
humilha perante a Sua presença (Isaías 57:15). Um dos resultados da encarnação
é expresso na frase do apóstolo João: “e habitou entre nós” (João 1:14). A
palavra grega traduzida por “habitou” se deriva do substantivo que significa
“tenda”. Por isso, algumas versões antigas trazem “tabernaculou”. A intenção é
mostrar que a encarnação faz uma referência ao Tabernáculo no deserto, onde o Senhor viera habitar no meio do Seu povo (Ex.
25:8,9; 40:34). Lá, a coluna de fogo era sinal externo da presença real no
acampamento de Israel. Aquela presença divina é substituída por esta: a morada
de Deus, o local onde Ele habita no meio dos homens. É um homem, uma pessoa,
uma “carne”.
Qual a finalidade dessa morada de Deus
entre nós? Responder a essa pergunta é mostrar o propósito desta encarnação. O
Deus eterno quer estabelecer comunhão com o seu povo, quer morar entre nós,
quer ser Emanuel - o Deus conosco (Isaías 7:14; Mateus 1:23). Este sempre foi o
propósito do Senhor: desde o Gênesis quando vinha se encontrar com o homem na
viração do dia (Gênesis 3:8) até o Apocalipse, quando então estabelece para
sempre o seu tabernáculo entre os homens (Apocalipse 21:3). Pela encarnação,
Deus demonstrou, em Cristo, o seu propósito de restaurar o ser humano à Sua
imagem. Para que isso se tornasse realidade, Cristo “a si
mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de
homens” (Filipenses 2:7). Ele fez do homem Sua própria morada.
Analisando o texto de João 1:1-14, o
comentarista bíblico Bruno Maggioni chama a atenção para a diferença que há
entre os versos 1 e 14, ou melhor, a distância que é superada pela encarnação
de Jesus. No versículo 1, afirma-se que o Logos era (existia), numa existência
plena e divina. No versículo 14, o Logos torna-se, isto é, assume uma
existência história. No versículo 1, Jesus estava junto de Deus; no versículo
14, Jesus está no nosso meio. Ainda no verso 1, Ele existia como Deus; no verso
14, torna-se carne; tudo isso, porque Deus quer habitar entre nós.
2.
Encontro entre Deus e o seu povo
A encarnação manifesta o encontro de Deus
e os homens. No Antigo Testamento, o Tabernáculo era tanto o lugar da morada de
Deus, quanto o lugar de encontro entre Deus e os homens. A encarnação do Verbo
é a ponte que possibilita esse encontro. O próprio Jesus, fazendo uma
referência ao sonho de Jacó, assume a comparação com a escada, na qual os anjos
de Deus subiam e desciam (Gênesis 28:12; João 1:51). Esta verdade se comprova
em João 14:6, quando Ele afirma ser esta ponte ente Deus e os homens (veja
também 1 Timóteo 2:5). Antes esta escada era apenas para o trânsito de anjos, mas, após a obra redentora, abriu o caminho para o
encontro entre Deus e os homens (Hebreus 10:19,20).
Paulo ensina que a vinda de Jesus em carne
e osso produz o encontro de Deus com os homens. Diz ele: “Deus estava em
Cristo, reconciliando consigo o mundo” (2 Coríntios 5:19). Em Jesus, nós encontramos
o próprio Deus. É o Deus invisível, tornando-se visível (Colossenses 1:15).
Nele, todas as coisas se reconciliam (Colossenses 1:19,20). Em Jesus Cristo Deus se identifica
com o homem. O encontro com Deus depende de Jesus Cristo. O conhecimento de Deus
depende do Verbo encarnado (Lucas 10:22; João 14:6-11).
3.
Desafio de Deus ao seu povo
Como Filho de Deus, Cristo teve uma missão
a cumprir: ser o portador de vida aos homens (João 1:4; 10:10). A encarnação é
o ponto fundamental dessa missão. Assim como o Verbo recebeu uma missão na Sua
vinda ao mundo, também a igreja cristã recebe a mesma responsabilidade (João
20:21). A encarnação envolve toda a ação da igreja no mundo; a ela foi confiada
“a palavra da reconciliação” (2 Coríntios 5:19). A encarnação de Cristo é
modelo de missões para a igreja. O ato da encarnação fala de um envolvimento
missionário: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho...” (João 3:16).
A encarnação também é um desafio de Deus
ao seu povo quando trata do próprio engajamento da igreja. Na afirmação de que
“o Verbo se fez carne”, vemos um Deus envolvido, que participa na busca do
perdido. Ele veio salvar o que se havia perdido (Lucas 19:10). Todo o
envolvimento na comunidade cristã precisa se voltar para esta realidade: salvar
o perdido, libertar o oprimido. Essa foi a missão do Filho (Lucas 4:16-21).
Essa é também a missão da igreja no mundo (João 20:21).
A presença de Jesus na vida da igreja
cristã, através do Espírito Santo, é um privilégio que traz uma grande
responsabilidade. É o desafio de anunciá-lo aos homens. Mais do que isso, é o
desafio de viver Jesus no nosso dia-a-dia. A igreja é a portadora das
boas-novas do Reino. Ela tem então a responsabilidade de continuar mostrando
aos homens que Deus continua morando entre nós.
O apóstolo Paulo já dizia: “Já não sou eu
quem vive, mas Cristo vive em mim.” (Gálatas 2:20). Eis o grande
desafio para a igreja: ser uma comunidade tão envolvida com o evangelho, a
ponto de se confundir com o próprio Senhor Jesus Cristo.
Jesus sempre definiu com clareza os
desafios que seus discípulos e sua igreja teriam pela frente. Em cada ordem de
envio dado aos discípulos, Ele sempre confirmou Sua presença. Em Mateus
28:18-20 Ele prometeu continuar sendo o Emanuel - “Eis que estou convosco todos
os dias até a consumação dos séculos”. Em Atos 1:8 Ele continuaria dando
assistência aos discípulos, enviando o Espírito Santo para capacitá-los a
enfrentar os desafios do Reino: “sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém
como em toda a Judéia e Samaria até os confins da terra.”
Assim, podemos afirmar que a encarnação do
Verbo implica em grandes desafios para a igreja: o desafio missionário, o
desafio à prática de um evangelho comprometido com as necessidades ao redor, o
desafio quanto à promoção da vida abundante possível em Cristo Jesus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário