quarta-feira, 3 de abril de 2013

Novos Céus e Nova Terra

A Esperança do Povo de Deus

Apocalipse 21:1-8

Segunda: Gênesis 1:2-4;
Terça: Isaías 25:1-12;
Quarta: Isaías 65:17-25;
Quinta: Apocalipse 21:1-8;
Sexta: Apocalipse 21:9-27;
Sábado: Apocalipse 22:1-5;
Domingo: Apocalipse 22:6-21.


Os dias atuais são de tensão e medo.

A instabilidade econômica mundial tem tirado a paz de milhões e milhões de pessoas no mundo inteiro.

O desmatamento acelerado e a poluição (industrial e doméstica) estão esgotando as fontes de água, que não são recursos naturais renováveis.

Doenças, como a AIDS, por exemplo, continuam matando milhares e milhares de pessoas em todo o mundo.

A distância entre ricos e pobres continua, provocando inúmeras consequências desastrosas, sendo a violência urbana uma delas.

Diante de uma situação tão caótica como essa, surgem perguntas, tais como: É possível ter esperança? Há algum futuro para este planeta? Como devem agir os cristãos?

O último estudo dessa série sobre a história bíblica da redenção apresenta um pouco do ensino sobre a esperança cristã, principalmente em tempos difíceis. Nos livros de teologia sistemática, tal ensino aparece no capítulo conhecido como "escatologia", que significa o estudo das últimas coisas. 

Há muita confusão por aí em matéria de escatologia. Preste atenção nos dois pontos a seguir, para que você não tenha uma compreensão errada da esperança cristã:

a) Não pense que a doutrina da nova terra é a mesma coisa que as Testemunhas de Jeová anunciam. Eles pregam que o "céu" será apenas para 144 mil salvos, sendo que o "resto" ficará na terra. Porém, não é isso que a Bíblia ensina. A esperança cristã é que o céu e terra serão uma só realidade (Apocalipse 21:1-3);

b) Não pense que a esperança da nova terra tem a ver com o "milênio" (período de 1.000 anos literais). Os textos bíblicos que falam dos novos céus e a nova terra, também falam de uma esperança para toda a eternidade e não apenas de mil anos, como defendem alguns.

Novos céus e nova terra assinalam o clímax, o desfecho da história da redenção. Vamos ver algumas lições que podemos aprender com este assunto:

1. A esperança escatológica no Antigo Testamento
Há quem pense que somente o Novo Testamento fala a respeito das últimas coisas. É um engano pensar assim, pois o Antigo Testamento fala muito a respeito. De fato, o Novo Testamento dá grande ênfase ao tema das últimas coisas, mas, na verdade, o Novo Testamento baseia-se no Antigo para transmitir seus ensinamentos.

O prof. Anthony Hoekema, teólogo reformado, lembra que, na verdade, a Bíblia inteira em uma estrutura escatológica: o Antigo Testamento aponta para o Novo Testamento, que por sua vez, aponta para a esperança de "novos céus e nova terra, nos quais habita a justiça" (2 Pedro 3:13).

O biblista Donald Gowan escreveu um livro sobre escatologia no Antigo Testamento. Conforme o prof. Gowan, o Antigo Testamento manifesta esperança de, entre outros pontos, paz na terra (Isaías 2:2-4); conversão das nações (Jeremias 3:17); arrependimento, conversão e perdão (Isaías 33:24; 59:20; Zacarias 13:1); saúde e paz (Jeremias 33:6); uma transformação da natureza, manifesta em fertilidade abundante (Joel 2:22; 3:18); uma nova ordem na natureza (Isaías 11:6-9; 65:1-10); enfim, uma nova terra (Isaías 35:1-10).

A esperança de uma nova terra, tão importante na mensagem do Antigo Testamento, deve impulsionar os cristãos para uma prática integral da missão da igreja.

2. O Reino de Deus no Novo Testamento
Assim como no Antigo Testamento, a esperança de novo céu e nova terra é tema por demais importante no Novo Testamento. É importante lembrar que o Novo Testamento apresenta essa esperança no contexto do tema do Reino de Deus. O tema do Reino aparece no Antigo Testamento, porém, é no Novo Testamento que é tratado com muito mais ênfase. O reino de Deus é o domínio completo do Senhor sobre todo o Universo e sobre todas as áreas da vida humana. Trata-se de um novo governo, com uma cultura diferente, costumes diferentes, relacionamentos totalmente diversos do que vivemos neste mundo. O Apocalipse diz claramente que não haverá lembrança das coisas passadas (Apocalipse 21:4; Isaías 65:17).

Para entender o ensino e a missão de Jesus, é preciso considerar o tema do Reino de Deus. Jesus é apresentado como aquele que traz o Reino de Deus ao mundo (Lucas 11:20). Quando Jesus cura, expulsa demônios, multiplica pães e peixes, traz mortos de volta à vida, perdoa pecadores, ensina a verdade, está manifestando sinais do Reino de Deus no mundo. Com isso, aprendemos que o domínio de Deus tem, como características, a justiça e a paz. Em outras palavras, "vida em abundância" (João 10:10). Jesus não morreu e ressuscitou para apenas perdoar nossos pecados e pronto. Antes fez isto para que pudéssemos ser inseridos no Seu Reino, no Seu povo e nação. Fomos salvos para pertencer a Ele e servir a Ele, para que o Reino de Deus fosse manifestado em nós e por meio de nós. O Reino de Deus é manifesto neste mundo quando deixamos o Espírito Santo nos usar e então passamos a viver as verdades da Palavra. Ao viver o evangelho, vamos influenciando as outras pessoas ao nosso redor a se renderem Àquele que nos ama, trazendo mais súditos para o Seu Reino e esvaziando o reino das trevas. Vivendo o evangelho, trazemos uma nova cultura, a cultura de santidade, que é totalmente diferente da que o mundo vive e prega.

Ao mesmo tempo, o Reino de Deus ainda não está totalmente presente. Por isso, Jesus nos ensina a orar, dizendo: "venha o teu reino" (Mateus 6:10). O Reino de Deus já está presente, mas não ainda na sua plenitude. Em outras palavras: o reino de Deus já veio; porém, por enquanto, apenas em parte. A igreja espera o dia em que o Reino venha completamente. Aí, o mal será totalmente eliminado da face da Terra (Apocalipse 21:8; 22:3,15).

O Novo Céu e a Nova Terra que os cristãos esperam é a concretização absoluta do Reino de Deus. É essa esperança que nos inspira e nos move a olhar para frente, como escreve Paulo: "Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós. (...) Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora. E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos no nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo. Porque, na esperança, fomos salvos." (Romanos 8:18-25).

3. Implicações da esperança de Novos Céus e Nova Terra
Pode ser que, para algumas pessoas, a escatologia seja assunto apenas teórico, que sirva para debates e discussões. Entretanto, não deve ser assim. Mais do que apenas doutrina, a escatologia é esperança. Essa esperança tem várias implicações para os que dela se alimentam. Dentre tantas, expomos aqui três:


  • Esforço evangelizador: uma das cenas mais lindas do Apocalipse é a visão que João teve do triunfo da obra evangelizadora, que é assim descrita: "Depois destas coisas vi, e eis grande multidão, que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos; e clamavam em grande voz dizendo: ao nosso Deus que se assenta no trono, e ao Cordeiro pertence a salvação." (Apocalipse 7:9,10). Essa esperança escatológica é forte o bastante para incentivar o povo de Deus à obra evangelizadora, tarefa que requer diligência, um esforço extra, devido à sua urgência. De fato, somente após o evangelho ter alcançado os quatro cantos da terra, todas as nações, é que chegará o fim (Mateus 24:14). O evangelismo é o único ministério que não será necessário nos novos céus e nova terra, já que todos serão salvos. Diante disto, devemos nos empenhar nesta sublime tarefa de alcançar os perdidos para Jesus;
  • Envolvimento com questões ecológicas: se cremos que a natureza espera com ansiedade o dia em que será alcançada pelos efeitos da redenção conquistada por Jesus na cruz (Romanos 8:22), devemos, desde já, ter um envolvimento sério e consciente nas lutas pelo meio ambiente. Tal luta não pode ser entregue aos não cristãos, como se não fosse assunto digno da atenção dos filhos de Deus em missão no mundo. No cumprimento de sua missão, a igreja não pode negligenciar essa causa que é tão vital;
  • Empenho pela justiça: o já citado texto de 2 Pedro 3:13 diz que a nova terra tem, como uma de suas principais características, a justiça: "Nós, porém, segundo a promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça". Portanto, a luta pela justiça em todas as áreas da sociedade deve ser parte integrante da missão da igreja. Quando os filhos de Deus se omitem nessa luta, acabam se conformando ao padrão do presente século, o que, sem dúvida, é negativo e arriscado.
O pensador cristão C. S. Lewis disse que os cristãos que mais fizeram por este mundo foram os que esperavam o mundo do porvir. Que o mesmo aconteça conosco. Amém!


Para pensar:


  • Você tem esperado a volta de Jesus simplesmente porque foi derrotado neste mundo e se apóia na esperança dos novos céus e nova terra como um meio de escapar-se dos seus problemas e dificuldades? Ou deseja a volta do Seu Senhor simplesmente porque você ama a Jesus e quer realmente viver com Ele por toda a eternidade?


quarta-feira, 20 de março de 2013

Está Consumado

Sofrimento, Morte e Ressurreição de Jesus

João 19:17-30; 20:1-10


Segunda: Mateus 27:33-56;

Terça: Mateus 28;
Quarta: Lucas 23:33-40;
Quinta: Atos 1:1-11;
Sexta: 1 Coríntios 15:1-20;
Sábado: Filipenses 2:1-11;
Domingo: 1 Tessalonicenses 4:1-18.


É fascinante estudar a vida de Jesus. Não existe maior exemplo do que o dEle. Ele deve ser a aspiração de todo o cristão, o seu maior alvo, seu maior ícone (Efésios 4:13). Como já foi abordado em estudos anteriores, Jesus, o Filho de Deus encarnado, presente no meio da humanidade, exerceu um ministério público cuja preparação foi realizada por João Batista. O ponto culminante da história de Cristo está neste estudo: seu sofrimento, morte e ressurreição. Sabe-se que a sua ascensão ocorreu 40 dias após estar ressurreto. O período a ser tratado aqui compreende a última semana de Jesus em Jerusalém.

Durante o seu sacrifício na cruz, Ele pronunciou várias frases repletas de profundos significados. Uma delas é: “Está consumado”, que significa: “está completo, está concluído, está terminado.” Ele morreu, não por causa de erros praticados e nem como se fosse um mártir. Morreu para que o projeto de Deus fosse concluído conforme estava previsto. O plano de salvação estaria incompleto ser não incluísse esses momentos históricos: morte e ressurreição. Na verdade a fé cristã seria vã se, por exemplo, Cristo não houvesse ressuscitado (1 Coríntios 15:14).

O Império Romano -  que estava se sentindo ameaçado pela presença e obra do Rei dos reis - tomou providências para tentar derrotá-lo. As autoridades pensavam que a morte colocaria um ponto final na pessoa e obra de Jesus. Desde o seu nascimento, a perseguição já era uma realidade, pois Herodes determinara a matança dos inocentes, exatamente com o propósito de atingir o menino Jesus (Mateus 2:16). Mas, é oportuno observar que o instrumento de execução do Salvador transformou-se em símbolo de vitória.

Quanto ao aspecto histórico da morte de Jesus é possível verificar:

· Homens perversos ficaram irados com a vida e as palavras do Mestre, e passaram a tramar a sua morte (Lucas 4:28-30; João 5:18; 7:1,25);

· Jesus estava convicto de que a sua obra se cumpriria através do seu sacrifício (Mateus 20:28; 26:24; João 3:14; 8:28);

· Jesus permitiu-se prender e crucificar, porque o desejou (Mateus 3:15);

· Voluntariamente entregou-se à vontade soberana do Pai (Lucas 22:53; João 10:18; 17:1);

· A morte de cruz fazia o condenado incorrer na maldição da Lei (Deuteronômio 21:22,23; Gálatas 3:18);

· A condenação e morte de Jesus foram, do ponto de vista legal e moral, a maior infração, o mais desprezível desvio da justiça (Atos 2:22,23);

· O governador Pôncio Pilatos declarou que nenhum crime havia em Jesus (Lucas 23:4,14).

Há evidências de crucificação nos séculos VI e V a.C., na Pérsia, segundo o historiador Heródoto. Era praticada pelos fenícios e cartagineses, e, posteriormente, pelos romanos. Os escravos, os tipos mais baixos de criminosos, eram crucificados; raramente esta execução era imposta aos cidadãos romanos.

A execução na cruz era chocante. Certa vez, o imperador Júlio César desejou observar a cena de uma crucificação, mas, ao ver, desmaiou.

O presente estudo, que fala de momentos históricos extremamente importantes na vida de sofrimento de Jesus, tem como objetivos apontar lições numa perspectiva de vitória.

1. A motivação maior do sacrifício de Jesus

Quando se estuda a respeito do sofrimento, morte e ressurreição de Jesus, é indispensável observar esses acontecimentos não apenas do ponto de vista de resultados. Eles possuem uma causa motivadora, que pode ser resumida numa única palavra: amor. O conhecido texto de João 3:16 apresenta a dádiva de Jesus como sendo a maior prova do seu amor. Esse amor sacrificial foi revelado à humanidade que, de fato, não o merecia. Porém, o amor de Deus é incondicional e está acima de qualquer compreensão (Romanos 5:6-8). John Stott declarou: “Sem a morte sacrificial de Cristo por nós, a salvação teria sido impossível.” (Hebreus 9:22).

2. O alcance do sacrifício redentor de Jesus

Jesus entregou-se pelos pecados do seu povo, para resgatá-lo deste mundo perverso, de acordo com a vontade do Pai (Gálatas 1:4). O que mais desperta a atenção é justamente o fato de que, através da morte e da ressurreição, todo aquele que crer poderá ter a certeza da vida eterna (João 3:36). É interessante constatar a simbologia da crucificação, pois, lá no madeiro, Jesus estava de braços abertos, expressando o seu desejo de acolher a todos. As suas mãos estendidas apontavam para as extremidades do universo, simbolizando o alcance da sua obra redentora (Mateus 11:28-30). A cruz tem duas direções: aponta para o alto na travessa vertical, falando da restauração do relacionamento entre o homem e Deus; e outra que aponta para os lados, falando da restauração do relacionamento entre as pessoas e o alcance do amor de Deus.

“Mediante a ressurreição, Deus glorificou e exaltou a Jesus que havia morrido. Promovendo-o ao lugar de suprema honra à sua direita, em cumprimento ao Salmo 110:1; e por causa da realização da sua morte, Deus transformou ao Jesus crucificado e ressurreto em Senhor e Cristo e em Príncipe e Salvador, dando-lhe autoridade para salvar os pecadores, concedendo-lhes arrependimento, perdão, e o dom do Espírito.” (John Stott).

A vitória da cruz ficou completa com a ressurreição e ascensão de Jesus. Ele demonstrou poder sobre a morte; assim garante a ressurreição para a vida a todos aqueles que nEle creem.

O pecador precisa valorizar o sacrifício de Jesus, aceitando-o como único e suficiente Salvador, lembrando que Ele entregou o Seu corpo e derramou o Seu sangue precioso para lhe dar salvação. Na cruz, o preço do Seu resgate foi pago (Colossenses 2:14,15).

3. Benefícios do sacrifício e ressurreição de Jesus

As bênçãos decorrentes do sacrifício, morte e ressurreição de Jesus são incalculáveis. Por exemplo:

· o amor de Deus é comunicado ao seu povo (João 6:53,56,57);

· a justificação é alcançada (Romanos 4:25; 5:1-11);

· a reconciliação do pecador com Deus é promovida (Efésios 2:16);

· a redenção é consumada (Romanos 3:21-25; 6:23; Hebreus 5:9,10; 12:1,2);

· o perdão e a paz são garantidos (Romanos 5:1; 1 Coríntios 15:1-5);

· a cura das enfermidades são alcançadas (Isaías 53:4,5);
a libertação da carne e da vida de pecado são alcançadas quando nos vemos incluídos na Sua morte (Romanos 6:3-14);

· A vitória completa sobre os espíritos demoníacos é garantida. O que muitos não conseguem observar no sacrifício de Cristo é de que a cruz não era simplesmente uma cruz, mas uma espada enficada no Calvário, que significa “caveira”, falando do crânio cabeludo daquele que anda em seus delitos (Salmo 68:21), que é o próprio satanás, cumprindo a profecia de Gênesis 3:15, quando o descendente da mulher feriria a cabeça da serpente (esta serpente que é o diabo—Apocalipse 12:9). Confirma este ensino Colossenses 2:15— perceba onde foi que o Messias venceu ao império das trevas.

A Bíblia diz que a morte de Jesus foi tanto voluntária quanto determinada; foi pelos pecados da humanidade; foi para resgatar o pecador. A consequência atual da morte de Jesus é graça e paz. O resultado eterno da morte de Jesus é que Deus será glorificado para sempre (Gálatas 1:3-5).

Jesus venceu o maior inimigo - a morte -, e ressuscitou no terceiro dia. Está vivo pelos séculos dos séculos! A igreja, ao celebrar a Ceia do Senhor, rememora a morte do Senhor e proclama a sua segunda vinda gloriosa.

O preço do resgate foi pago. A reconciliação está completa! A justiça eterna foi produzida. “Está consumado!” (João 19:30). Como diz um hino: “Cristo já ressuscitou, aleluia!”

quarta-feira, 13 de março de 2013

Andava Fazendo o Bem

O Ministério de Jesus

Atos 10:34-43

Segunda: Mateus 3:13-17;
Terça: Mateus 4:1-11;
Quarta: Mateus 4:23-25;
Quinta: Marcos 1;
Sexta: Marcos 3:13-19;
Sábado: Lucas 4:14-30;
Domingo: João 2:1-25.




É algo fascinante conhecer a vida de Jesus, principalmente ao observar o seu ministério público, que durou cerca de 3 anos. Para muitos, o ministério de Jesus teve início em uma festa de casamento, em Caná da Galiléia, quando transformou água em vinho. Outros defendem que foi por ocasião do seu batismo.

O ministério de Jesus ocorreu na maior parte na Palestina, tendo a cidade de Cafarnaum como sua base. A Palestina era uma pequena faixa de terra, com área de cerca de 20 mil km2, com 240 km de comprimento e o máximo de 85 km de largura. No tempo de Jesus, as atividades que formavam a base da economia eram: agricultura, pecuária, pesca e artesanato. Os impostos eram rigorosamente cobrados pelos publicanos. O poder estava nas mãos dos romanos. O centro político e religioso era Jerusalém. O quadro social da época em que Jesus exerceu o seu ministério constava de saduceus, escribas, fariseus, zelotes, herodianos, essênios e samaritanos. A vida religiosa do povo judeu estava centrada em dois polos fundamentais: templo e sinagoga. Jesus nasceu, viveu, morreu, ressuscitou e foi elevado aos céus, dentro deste contexto histórico.

É através dos Evangelhos que se podem conhecer os ensinos e os feitos de Jesus durante o seu ministério. Ele ensinou com tal autoridade que provocava assombro em muitos ouvintes (Mateus 7:28,29; Marcos 1:27; João 7:46).

Durante o seu ministério público, Jesus apresentou ensinos novos e revolucionários, oferecendo novos rumos para a vida social, econômica, política e religiosa. Em sua missão de fazer o bem, adotou conceitos e práticas revolucionários, à luz dos princípios básicos do reino de Deus.

Neste estudo, pretende-se dar ênfase em alguns destes conceitos e práticas, os quais devem ser conhecidos e praticados pelo povo de Deus. Não é possível falar de tudo quanto Jesus fez e ensinou neste pequeno estudo. Até mesmo os evangelhos são sinceros em dizer que somente selecionaram alguns ensinos e histórias, já que, se houvesse uma preocupação em relatar tudo, não haveriam livros no mundo que coubessem o que havia sido feito e ensinado (João 20:30; 21:25).

1. A substituição do poder pelo serviço

Jesus esteve sempre diante de autoridades, lidando com os poderosos, chegando a ser condenado por eles. Ele era visto pelas autoridades como uma ameaça. Porém, mesmo sendo o “Rei dos reis”, o “Senhor dos senhores”, Ele ensinou a respeito de uma vida de serviço, de humildade, desprovida de qualquer vaidade e soberba. Verdadeiramente Ele foi o “Servo de servos” (Isaías 42:1-4; Filipenses 2:5-11). Com isso, apresentou um conceito diferente e revolucionário, que produziu uma mudança radical: “maior é aquele que serve”. (Lucas 22:26; Marcos  9:33-37). Isto porque o conceito do mundo é totalmente oposto: aquele que exerce maior poder e tem maiores condições financeiras é o maior e o mais respeitado.

Nos Evangelhos é possível encontrar, com muita clareza e objetividade, esse ensino (Mateus 11:25; 20:27,28; 23:11; Lucas 22:27; João 13:1-20).

Uma das maiores evidências dessa substituição do poder pela vida de serviço está na própria encarnação de Jesus, como já foi demonstrado no estudo anterior.

Sobre a vida comprometida com o serviço, assim escreveu Ronald Sider: “Se um décimo dos cristãos de todo o mundo começasse realmente a seguir o modelo de Jesus, haveria um desejo de se desfazer da preocupação egoísta com sua própria maneira abastada de viver e, em vez disso, concentrar-se-iam nas necessidades dos pobres e dos não evangelizados. Eles se identificariam tão plenamente com os que precisam do evangelho, e com os que precisam de alimento e justiça, quanto Jesus, que tomou a forma de um escravo.”

Portanto, a igreja é chamada a viver segundo esse ensino do Mestre. Entretanto, o que se percebe em determinadas comunidades cristãs é quase que uma ignorância desse ensinamento. Quando isso acontece, a soberba passa a reinar e o exibicionismo e a supervalorização daquilo que é material tomam conta.

A vida cristã é serviço. A igreja é uma agência de trabalho, em que todos são desafiados a servir a Cristo e uns aos outros, utilizando os dons e talentos conferidos pelo Senhor (veja que forte estes textos Romanos 12:9-21; Filipenses 2:3,4).

2. O nivelamento fraterno das pessoas

Jesus demonstrou amor fraternal a todas as pessoas. Ele fazia o bem a todos; e estava sempre enxergando as oportunidades para ajudar os necessitados. Ele fazia isso sem nenhum preconceito, pois considerava a todos iguais, promovendo assim um nivelamento fraterno entre as pessoas. É por isso que muitos defendem a ideia de que Jesus fez uma opção pelos pobres. Embora Ele tenha olhado com simpatia para os pobres, a verdade é que procurou se relacionar bem com todas as pessoas, tratando-as com amor e dignidade. Jesus não excluiu a ninguém. É oportuno lembrar aqui, a maneira como tratou a diferentes pessoas:

· Ressaltou o valor das crianças (Lucas 18:15-17);

· Quebrou o preconceito racial e de gênero, ao conversar com uma mulher samaritana, o que não era comum entre os do seu povo (João 4:9,27);

· Hospedou-se na casa de um homem rico, que era acusado de corrupção; e argumentou dizendo: “Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido” (Lucas 19:1-10);

· Assentou-se com os publicanos e pecadores e declarou: “Os são não precisam de médico, e sim os doentes.” (Mateus 9:10-13);

· Determinou que devemos amar os inimigos e orar por eles (Mateus 5:43-48).

Esse nivelamento pelo amor está também descrito em suas palavras, quando disse: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei.” (Mateus 11:28). O convite é dado a todas as pessoas, sem distinção.

Na igreja, esse conceito não pode ser ignorado, pois, é assim que o Senhor quer que o seu povo viva. Aqueles “grupinhos”, “panelinhas” ou pessoas “preferidas” precisam dar lugar a um relacionamento interpessoal amplo, inclusivo, imparcial. Isso não é fácil de ser praticado, mas, olhando para Jesus, não há outra maneira correta de se viver como verdadeiros cristãos.

3. O cuidado integral com o ser humano

No decorrer da trajetória ministerial de Jesus, percebe-se com nitidez o seu cuidado para com o ser humano, de modo integral. Ele atendeu a todas as necessidades das pessoas. Aqui, Ele pode ser mencionado como o Bom Pastor, que cuidava das ovelhas, a ponto de dar a Sua vida por elas (João 10). Portanto, nenhum aspecto da vida humana ficou sem ser atendido por Ele.

Em Mateus 9:35. está o resumo desse cuidado integral de Jesus para com o ser humano, evidenciado em todo o seu ministério: “E percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do Reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades.” Três palavras definem bem a extensão do ministério de Jesus:

· Ensino: “ensinando nas sinagogas” (atenção dada para o intelecto e caráter);

· Pregação: “pregando o evangelho do Reino (atenção voltada para as necessidades do coração e da alma, as emoções);

· Cura: “curando toda sorte de doenças e enfermidades” (atenção voltada para as necessidades da mente e do corpo).

Esse conceito revolucionário deixado por Jesus mostra sua preocupação com todo o homem e com o homem todo.

Jesus estava em uma casa, pregando o evangelho, quando foi surpreendido com o aparecimento de uma leito no qual trazia um paralítico (Marcos 2:1-12). Cuidou daquele homem de modo completo, pois, antes de curá-lo, percebeu a sua necessidade espiritual. Perdoou os seus pecados e ofereceu-lhes a cura. O paralítico saiu alegre, dando glórias a Deus. Jesus cuidou do seu problema espiritual e físico. Ali também o Senhor mostrou que as bênçãos tanto para a cura da alma (pecados) quando do corpo (doenças) procediam duma mesma fonte: sua obra na cruz!

A igreja precisa acordar para essa realidade e estabelecer prioridades, elaborando projetos e metas, definindo sua missão e visão, de modo a atingir todas as áreas da vida humana. Ela não pode ficar apenas cuidando do “espiritual”, mas deve se preocupar com as questões de ordem física, emocional, moral, intelectual, social e tantas outras. É hora de uma ação mais eficaz, que veja o ser humano na sua integralidade.

quarta-feira, 6 de março de 2013

O Verbo se fez Carne

A Encarnação de Cristo

João 1:1-14

Segunda: Mateus 1:18-25;
Terça: Lucas 1:26-38;
Quarta: Lucas 2:1-20;
Quinta: Filipenses 2:5-11;
Sexta: 1 Timóteo 3:14-16;
Sábado: 1 João 4:1-6;
Domingo: 2 João 1


Deus se fez homem! Essa afirmação é o maior mistério da fé cristã. Por mais que nos esforcemos, não conseguimos compreender plenamente a realidade da encarnação de Cristo. William Temple, arcebispo da Cantuária, disse em uma de suas obras que, “se um homem afirmar que entende a relação da Divindade com a humanidade de Cristo, demonstra simplesmente que não compreende o significado da Encarnação e da Expiação.” Entretanto, mesmo em face dessa dificuldade para o pleno entendimento, não significa que nada possa ser dito a respeito de tal assunto. Isto até porque as coisas espirituais são aceitas pela fé e não pelo nosso entendimento, já que, se mal compreendemos as coisas terrenas, como entenderemos com relação às coisas espirituais na atual condição em que estamos?

O fato é que Deus assumiu a forma humana. Preparou o tempo da encarnação e, na “plenitude dos tempos” (Gálatas 4:4), ou seja, quando as pessoas estavam prontas para receberem o Messias, isso aconteceu.

No século I existiram os gnósticos que procuravam afirmar que a encarnação não existiu (1 João 4:1-3), pois para eles a matéria é essencialmente má e suscetível às enfermidades e, desta forma, Jesus não poderia ter assumido esta natureza. Os próprios espíritos malignos não confessam que o Senhor veio em carne, pois para eles isto é uma grande humilhação, já que Jesus os venceu sendo homem e não Deus. Os apóstolos sempre ensinaram este grande mistério: “o Verbo se fez carne” (João 1:14; Filipenses 2:7,8; Romanos 8:3; 1 Pedro 3:18; 4:1).

A igreja cristã, mais tarde, afirmou a realidade da encarnação. Isto se deu no ano 451, no Concílio da Calcedônia. As naturezas divina e humana estavam unidas na pessoa de Jesus Cristo, embora o Senhor nunca tenha usado da natureza divina enquanto viveu como humano aqui (Filipenses 2:6-8), mesmo tendo sido tentado a isto (Mateus 4:3-6; 27:40). Se de fato Ele cedesse à esta tentação ao usar os poderes de Filho de Deus, jamais poderia nos representar no Calvário, pois para substituir o ser humano somente um outro igual, ou então o sacrifício não seria aceito.

Na encarnação, o Senhor da História entra na história humana, não como uma energia ou um fantasma, mas como um homem real, de carne e osso. Esse fato torna ímpar a religião cristã. Por amor, Deus desce da sua glória e majestade, faz-se carne, assume a condição humana para, de maneira plena, revelar-se aos homens. Por este motivo, o Filho de Deus se tornar humano é loucura para os gregos, que sempre viam em sua religião os homens se tornando deuses e não o contrário. Seus falsos deuses nunca tiveram real compaixão e interesse pelos homens, sendo que, ao ouvirem a Verdade do Evangelho, ficavam impressionados.

Segundo os professores Juan Mateos e Juan Barreto, “o projeto divino realizou-se em uma existência humana, a plenitude da vida brilha em um homem, é visível, acessível, palpável.”

Assim, este estudo tem como objetivo apresentar a razão e o resultado da encarnação de Cristo enfatizando que a encarnação é modelo e desafio para a igreja em missão no mundo.

A partir da realidade da encarnação do Verbo, podemos tecer as seguintes considerações:

1. Morada de Deus entre o seu povo

O Senhor Jesus Cristo afirmou que o Reino de Deus está dentro do coração (Lucas 17:21). Deus está presente no Universo, mas também se faz presente na vida humana. Habita num alto e santo lugar, mas também junto com aquele que se humilha perante a Sua presença (Isaías 57:15). Um dos resultados da encarnação é expresso na frase do apóstolo João: “e habitou entre nós” (João 1:14). A palavra grega traduzida por “habitou” se deriva do substantivo que significa “tenda”. Por isso, algumas versões antigas trazem “tabernaculou”. A intenção é mostrar que a encarnação faz uma referência ao Tabernáculo no deserto, onde o Senhor viera habitar no meio do Seu povo (Ex. 25:8,9; 40:34). Lá, a coluna de fogo era sinal externo da presença real no acampamento de Israel. Aquela presença divina é substituída por esta: a morada de Deus, o local onde Ele habita no meio dos homens. É um homem, uma pessoa, uma “carne”.

Qual a finalidade dessa morada de Deus entre nós? Responder a essa pergunta é mostrar o propósito desta encarnação. O Deus eterno quer estabelecer comunhão com o seu povo, quer morar entre nós, quer ser Emanuel - o Deus conosco (Isaías 7:14; Mateus 1:23). Este sempre foi o propósito do Senhor: desde o Gênesis quando vinha se encontrar com o homem na viração do dia (Gênesis 3:8) até o Apocalipse, quando então estabelece para sempre o seu tabernáculo entre os homens (Apocalipse 21:3). Pela encarnação, Deus demonstrou, em Cristo, o seu propósito de restaurar o ser humano à Sua imagem. Para que isso se tornasse realidade, Cristo “a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens” (Filipenses 2:7). Ele fez do homem Sua própria morada.

Analisando o texto de João 1:1-14, o comentarista bíblico Bruno Maggioni chama a atenção para a diferença que há entre os versos 1 e 14, ou melhor, a distância que é superada pela encarnação de Jesus. No versículo 1, afirma-se que o Logos era (existia), numa existência plena e divina. No versículo 14, o Logos torna-se, isto é, assume uma existência história. No versículo 1, Jesus estava junto de Deus; no versículo 14, Jesus está no nosso meio. Ainda no verso 1, Ele existia como Deus; no verso 14, torna-se carne; tudo isso, porque Deus quer habitar entre nós.

2. Encontro entre Deus e o seu povo

A encarnação manifesta o encontro de Deus e os homens. No Antigo Testamento, o Tabernáculo era tanto o lugar da morada de Deus, quanto o lugar de encontro entre Deus e os homens. A encarnação do Verbo é a ponte que possibilita esse encontro. O próprio Jesus, fazendo uma referência ao sonho de Jacó, assume a comparação com a escada, na qual os anjos de Deus subiam e desciam (Gênesis 28:12; João 1:51). Esta verdade se comprova em João 14:6, quando Ele afirma ser esta ponte ente Deus e os homens (veja também 1 Timóteo 2:5). Antes esta escada era apenas para o trânsito de anjos, mas, após a obra redentora, abriu o caminho para o encontro entre Deus e os homens (Hebreus 10:19,20).

Paulo ensina que a vinda de Jesus em carne e osso produz o encontro de Deus com os homens. Diz ele: “Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo” (2 Coríntios 5:19). Em Jesus, nós encontramos o próprio Deus. É o Deus invisível, tornando-se visível (Colossenses 1:15). Nele, todas as coisas se reconciliam (Colossenses  1:19,20). Em Jesus Cristo Deus se identifica com o homem. O encontro com Deus depende de Jesus Cristo. O conhecimento de Deus depende do Verbo encarnado (Lucas 10:22; João 14:6-11).

3. Desafio de Deus ao seu povo

Como Filho de Deus, Cristo teve uma missão a cumprir: ser o portador de vida aos homens (João 1:4; 10:10). A encarnação é o ponto fundamental dessa missão. Assim como o Verbo recebeu uma missão na Sua vinda ao mundo, também a igreja cristã recebe a mesma responsabilidade (João 20:21). A encarnação envolve toda a ação da igreja no mundo; a ela foi confiada “a palavra da reconciliação” (2 Coríntios 5:19). A encarnação de Cristo é modelo de missões para a igreja. O ato da encarnação fala de um envolvimento missionário: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho...” (João 3:16).

A encarnação também é um desafio de Deus ao seu povo quando trata do próprio engajamento da igreja. Na afirmação de que “o Verbo se fez carne”, vemos um Deus envolvido, que participa na busca do perdido. Ele veio salvar o que se havia perdido (Lucas 19:10). Todo o envolvimento na comunidade cristã precisa se voltar para esta realidade: salvar o perdido, libertar o oprimido. Essa foi a missão do Filho (Lucas 4:16-21). Essa é também a missão da igreja no mundo (João 20:21).

A presença de Jesus na vida da igreja cristã, através do Espírito Santo, é um privilégio que traz uma grande responsabilidade. É o desafio de anunciá-lo aos homens. Mais do que isso, é o desafio de viver Jesus no nosso dia-a-dia. A igreja é a portadora das boas-novas do Reino. Ela tem então a responsabilidade de continuar mostrando aos homens que Deus continua morando entre nós.

O apóstolo Paulo já dizia: “Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim.” (Gálatas 2:20). Eis o grande desafio para a igreja: ser uma comunidade tão envolvida com o evangelho, a ponto de se confundir com o próprio Senhor Jesus Cristo.

Jesus sempre definiu com clareza os desafios que seus discípulos e sua igreja teriam pela frente. Em cada ordem de envio dado aos discípulos, Ele sempre confirmou Sua presença. Em Mateus 28:18-20 Ele prometeu continuar sendo o Emanuel - “Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos”. Em Atos 1:8 Ele continuaria dando assistência aos discípulos, enviando o Espírito Santo para capacitá-los a enfrentar os desafios do Reino: “sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria até os confins da terra.”

Assim, podemos afirmar que a encarnação do Verbo implica em grandes desafios para a igreja: o desafio missionário, o desafio à prática de um evangelho comprometido com as necessidades ao redor, o desafio quanto à promoção da vida abundante possível em Cristo Jesus.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

O Reino de Deus está Próximo


O Ministério de João Batista

Mateus 3

Segunda: Lucas 1:5-25;
Terça: Lucas 1:57-66;
Quarta: Mateus 3:1-12;
Quinta: Lucas 3:19,20; 7:18-23;
Sexta: Lucas 7:24-35;
Sábado: Marcos 6:14-29;
Domingo: Isaías 40:3-11.

O ministério de João Batista ocupa um lugar especial na história bíblica. Constitui-se um elo importante entre o Antigo e Novo Testamentos, por ser o cumprimento de profecias a respeito daquele que viria para preparar o caminho para Jesus.

Nos tempos antigos, no Oriente, a chegada de um rei a uma determinada cidade ou região era precedida por um mensageiro, que percorria todos os caminhos, fáceis ou difíceis, proclamando que o rei estava vindo. Esse mensageiro era o arauto, que anunciava a guerra ou a paz. Conforme se lê em Isaías 40:3 e Malaquias 3:1. João Batista era esse arauto, cuja missão consistia em proclamar a chegada do Rei dos reis, chamando todos ao arrependimento. No Evangelho de Marcos, as únicas referências ao Antigo Testamento são as duas acima mencionadas, o que confere a João Batista uma posição de destaque no processo da implantação do Reino de Deus entre os homens. Exerceu o seu ministério no 15° ano do imperador Tibério Cesar, por volta de 28 e 29 da era cristã (Lucas 3:1).

Para muitos, tanto no início da era cristã, como ainda hoje, João era Elias reencarnado ou redivino. Porém isto é impossível, já que Elias não morreu, antes foi arrebatado aos céus, assim como Enoque. Na verdade João Batista exerceu um ministério similar ao de Elias. As profecias indicavam alguém que viria para exercer um ministério na mesma unção e poder de Elias, ou seja, nos mesmos moldes em que Elias exerceu o seu ministério (Malaquias 4:5,6; Lucas 1:17). E Jesus afirmou isto, dizendo que João era o profeta esperado nas Escrituras (Mateus 11:14; 17:10-13; Malaquias 4:5,6).

Sobre a pessoa de João Batista pode-se destacar:
  •  Era filho de Zacarias e Isabel (Lucas 1:5-25);
  • Seu pai era sacerdote (Lucas 1:5);
  • Era parente de Jesus (Lucas 1:36);
  • Seu nascimento foi por meio de uma intervenção divina (Lucas 1:24-25). E desde o ventre materno foi batizado com o Espírito Santo, o que lhe conferiu ser o maior dos nascidos de mulher (Lucas 1:41; Mateus 11:11);
  • Era nazireu, alguém consagrado a Deus por meio de um voto especial (Lucas 1:15; Números 6:1-9), ocupando o sacerdócio que havia sido corrompido na época de Anás e Caifás. Era necessário um sacerdote comprometido com o Senhor que impusesse as mãos sobre o Cordeiro do sacrifício, como um ato de passar os pecados de todos, cumprindo a tipologia do dia da expiação, quando o sumo-sacerdote entrava no Santo dos santos para oferecer um sacrifício pelos pecados de todos (Hebreus 9:7);
  • Sua vida foi muito austera. Desde pequeno foi entregue aos beduínos do deserto, entre os essênios, pois Herodes havia decretado a morte dos primogênitos. Viveu entre estes profetas estudando a Torá, numa vida destituída de qualquer luxo. Alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre, alimentação comum dos pobres no Oriente. Vestia-se de roupas feitas de pêlos de camelo e um cinto de couro, como Elias (Marcos 1:6; II Reis 1:8);
  • Sua autoridade e poder eram semelhantes ao de Elias (Mateus 11:14; Lucas 1:17);
  • Era um profeta e “o maior entre os nascidos de mulher” (Mateus 11:9,11);
  • Foi extremamente humilde (Marcos 1:7);
  • Foi corajoso no combate ao que não estava de acordo com a Lei de Deus (Marcos 6:17,18);
  • Sua pregação era forte e confrontava com o pecado. Lembra em parte a pregação de Jonas e se assemelha às palavras de Elias (Lucas 3:1-17);
  • Exerceu um ministério poderoso e de grande alcance. Conta-se que ele tinha 200 auxiliares e batizava cerca de 5000 pessoas por dia. Mesmo assim, mantinha-se humilde e concentrado na missão que Deus lhe deu (João 1:20-23, 27; 3:30).
O que se pretende com este estudo é uma apresentação da importância do ministério de João Batista para o ministério de Jesus, por meio de uma contextualização de sua mensagem para os dias atuais.

1. Uma nova compreensão do Messias

João Batista foi escolhido para apresentar Cristo ao mundo (João 1:6,7). No entanto ele, primeiramente, apresentou-o aos religiosos de seu tempo (fariseus, saduceus, escribas...), que possuíam uma compreensão totalmente distorcida do Messias prometido no Antigo Testamento. Os judeus esperavam alguém que pudesse livrá-los do poder romano; alguém cujo reino se estabeleceria na terra, restaurando a sua dignidade como nação e raça. Porém, João o apresentou com o Redentor, como aquele que pode transformar vidas, batizando-as com o Espírito Santo e com fogo. A sua pregação apontava para Jesus, revelando-o como o Filho de Deus, o Salvador de todos aqueles que sinceramente se arrependem de seus pecados (João 1:29).

Após o batismo de Jesus, a autenticidade da mensagem de João Batista foi confirmada por Deus Pai: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mateus 3:17). Assim, a pregação de João apresentava a Cristo como verdadeiramente Ele é.

Não são poucos aqueles que possuem uma compreensão errada ou distorcida da pessoa de Cristo. Certa vez, Jesus perguntou aos discípulos: “Quem o povo diz ser o Filho do Homem?” As resposta foram variadas: para alguns, Ele era o próprio João Batista; para outros, Elias; e outros diziam que Ele era Jeremias ou algum dos profetas (Mateus 16:13,14). Essas respostas revelam a ignorância de muitos em relação à pessoa de Jesus. Entretanto, uma compreensão exata a seu respeito considera-o como o Cristo, o Filho de Deus vivo (Mateus 16:16). Hoje muitos tem a Jesus como um simples homem do passado, ou apenas um profeta, ou um mero milagreiro. Mas se esquecem que Ele é Senhor, autoridade suprema (Filipenses 2:5-11), a quem nós devemos nos submeter como servos.

2. Uma nova compreensão da religião

O ministério de João Batista foi marcado por um forte apelo ao arrependimento. O próprio batismo que João realizava era conhecido como batismo de arrependimento. Arrependimento no grego é metanoia e significa “mudança de mente, de um propósito que se tinha ou de algo que se fez”. É algo profundo e não somente fala de mudança de atitudes, mas do que realmente somos. Essa era uma condição que se constituía numa evidência de preparação para a vinda de Jesus. Sem o arrependimento não é possível entrar no Reino de Deus, nem mesmo vê-lo (João 3:3,5). Se não houvesse esta preparação, o Senhor feriria a terra com maldição (Malaquias 4:6). Muitos, hoje, firmam-se em sua tradição religiosa, orgulhando-se de terem nascido em famílias cristãs, ou de pertencerem a determinada denominação, desprezando por completo a necessidade de uma fé pessoal em Cristo Jesus (Mateus 3:1,2). Assim, o novo tempo que Jesus viria instaurar deveria ser percebido com demonstração de quebrantamento do coração, para que a comunhão com o Pai celestial pudesse ser estabelecida. João Batista precedeu a Cristo, preparando o povo com uma mensagem desafiadora. A sensibilidade de coração seria um forte indício de que aquele povo estava se preparando para viver a vida no Espírito.

A mensagem profética de João Batista era primeiramente para os judeus que, orgulhosamente, viviam a sua religião legalista, firmando-se em sua tradição e desprezando a necessidade de arrependimento (Mateus 23:1-36—veja como eram os religiosos da época de Jesus). Para os judeus, a vinda do Messias seria para estabelecer um reino político, um reino para os judeus. Dessa maneira, a compreensão que tinham do Reino de Deus era totalmente contrária àquela que João Batista veio apresentar. Enquanto aguardavam um libertador político, que os salvaria da opressão dos romanos, Jesus veio para libertar de uma escravidão muito maior - a causada pelo pecado.

No entender de João, o Reino de Deus trazido por Jesus era de justiça e paz. O estilo de vida do povo é o que expressaria o recebimento desse reino. Não é a tradição religiosa que revela a entrada de alguém no Reino dos céus. Os judeus se orgulhavam de serem descendentes de Abraão, por isso achavam que estavam vivendo vida agradável a Deus. João Batista mostrou a eles a necessidade de um arrependimento sincero (Lucas 3:8,9). Pelo arrependimento, as pessoas estariam preparadas para receber aquele que batiza com o Espírito Santo e não por serem descendentes de sangue de Abraão.

Todos os que se apresentavam para o batismo de João eram desafiados a reconhecer os seus pecados, confessá-los e dar provas do seu arrependimento. Portanto, a verdadeira religião é resultado de uma mudança interior, de dentro para fora (Mateus 3:7,8).

O batismo que João ministrava era um sinal de que eles haviam se arrependido de seus pecados e aguardavam o momento de receber o Messias. A partir daí, então, experimentavam uma compreensão totalmente nova da religiosidade.

3. Uma nova compreensão da vida

Com certeza, o estilo de vida de João mostrava um desapego total das coisas materiais. Considerado por Jesus mais que um profeta e o maior “entre os nascidos de mulher” (Mateus 11:9,11), ele se julgava indigno de desatar as correias das sandálias de Jesus (Marcos 1:7). Essa atitude era um sinal da sua humildade. A compreensão que ele tinha da vida era de que estava na posição de servo, não de senhor. Muitos lhe perguntaram se ele mesmo era o Cristo, mas sempre respondia que não era (João 1:20). Talvez uma das maiores atitudes de humildade foi quando, no auge do seu ministério, surge o Senhor Jesus e ele permite que alguns dos seus principais discípulos sigam a Ele (João 1:36,37) e, quando alguns de seus discípulos, tomados por inveja, questionaram sobre o fato de Jesus estar batizando também. Frente a isto João nem se incomodou, antes disse que Jesus deveria crescer e ele diminuir, e que sua missão como aquele que estava preparando o caminho para o Messias estava se cumprindo (João 3:22-36). Ele não se preocupava com o poder, a fama, etc. Para ele, a vida representava muito mais. Sua pregação apontava nesta direção. Ao desafiar o povo a uma mudança de comportamento, João estava apresentando também alguns dos verdadeiros valores da vida: a simplicidade, a solidariedade, a justiça, o amor e o contentamento (Marcos 1:6; Lucas 3:11).

Assim, percebe-se que o ministério de João Batista, como precursor de Cristo, caracteriza-se pela apresentação de algo totalmente novo. As velhas e arcaicas estruturas religiosas, bem como a compreensão distorcida de um Messias que viria para implantar um reino terreno, são desfeitas. Uma nova compreensão da vida estava surgindo, preparando o povo para um estilo de vida compatível com o Reino dos céus.