quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Em Nome de Deus

Êxodo 20:7

Leitura Semanal:

Segunda: Levítico 19:11-15;
Terça: 1 Samuel 2:12-26;
Quarta: 1 Samuel 2:27-36;
Quinta: Salmo 50;
Sexta: Malaquias 1:6-14;
Sábado: Malaquias 2:1-9;
Domingo: Filipenses 2:5-11.





O título deste estudo faz lembrar o filme dirigido por Clive Donner, com o mesmo nome. Este filme tem como ambiente Paris do século XII, onde havia o amor proibido de Abelardo e Heloísa, bem como a tirania do poder religioso e político de uma época sombria, marcada por ambição e terror, sendo tudo feito ironicamente “em nome de Deus”.

Durante o tempo em que viveram no Egito, os filhos de Israel ficaram expostos a uma intensa religiosidade pagã. Após a saída do Egito o povo haveria de ter contato com outros povos igualmente religiosos paganizados. A religiosidade dos povos antigos ocorria em torno de deuses feitos à imagem e semelhança de suas paixões e desejos. Deuses que nem sempre eram respeitados ou cultuados com sinceridade e fidelidade. A maneira de viver nem sempre expressava temor e respeito pelos deuses. Em outras palavras, expressavam com palavras servirem a seu deus, mas negavam totalmente isto na sua vida diária. Segundo Carlos Mesters, “no Egito, na casa da servidão, o faraó e os reis faziam tudo em nome dos seus deuses. A invocação do nome dos deuses encobria o roubo, a injustiça, as mordomias, as mentiras. Diziam que era o 'direito dos reis'" (1 Samuel 8:10-20).

Sendo este o costume das nações, Deus ordena a seu povo uma postura diferente: “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão...”

Para os israelitas o nome estava ligado intimamente à pessoa. Algumas vezes indicava o seu caráter (Êxodo 3:13; Mateus 1:21), outras a posição que ocupa (Êxodo 23:21), ou até mesmo a missão e propósito destinado. O nome do Senhor é, pois, um nome maravilhoso e cheio de mistério (Isaías 9:6), santo e reverenciável (Salmo 111:9; Lucas 1:49), glorioso e terrível (Deuteronômio 28:58), cuja glória foi revelada a Moisés (Deuteronômio 32:3), pelos profetas (Salmo 99:3; Isaías 63:12,14), e finalmente em Cristo e pelos seus discípulos (João 17:6,26). Maravilhas foram operadas pela fé em Seu Nome (Atos 3:16). Os pagãos servem-se em vão deste nome, explorando o poder divino em benefício próprio como bruxarias e adivinhações (Deuteronômio 18:9-14; Atos 8:9-24); os estadistas e políticos usam este nome para apoiarem e justificarem as suas injustas ações e decisões e até mesmo os cristãos por vezes o utilizam em vão, como fazem os pagãos (Mateus 6:7).

Existem muita conversa a respeito do nome de Deus. Existem aqueles que afirmam expressamente que o nome de Deus é Jeová, outros dizem que é Yeho... mas a verdade é que o nome dado por Deus a Moisés é YHWH (Êx. 3:14). O hebraico antigo não tinha vogais, sendo apenas consoantes. A leitura do texto era algo “dedutivo”, ou seja, deveria se prestar atenção no texto para saber qual era a pronúncia da palavra. Devido ao temor dos israelitas pelo nome do Senhor, todo escriba, quando copiava o texto sagrado, lia em sua mente a pronúncia do Nome, mas pronunciava Adonai (Senhor) pelo temor ao nome e usava uma pena especial que era usada somente para escrever o nome de Deus. Devido a este temor, a pronúncia se perdeu e o que temos são possibilidades. Em nosso meio cristão evangélico as Bíblias estão usando a palavra SENHOR, com todas as letras maiúsculas ao invés de YHWH. Poucas trazem Yahweh, Javé ou mesmo Jeová. Em todos estes o significado é parecido com “Aquele que vive por si mesmo” ou “o Eterno”. Em suma, Deus sempre se revelou com um nome diferente para cada situação (veja no final do estudo alguns dos nomes de Deus). Como diz a pastora Ivanilte, Deus tem o nome de sua necessidade!

Vejamos, pois, os ensinos deste tão importante mandamento:

1. O que significa tomar o nome de Deus em vão? - a partir de Levítico 19:11-12 somos levados a entender que tomar o nome de Deus em vão, originalmente significava jurar falsamente pelo nome de Javé, isto é, usar o nome de Deus para dar base para uma declaração mentirosa, como se fosse verdadeira. Também pode incluir juramentos frívolos (sem sentido ou sem seriedade, isto é, de “brincadeira”).
Segundo R. Alan Cole “jurar pelo Seu nome (e não pelo de qualquer outro deus) era um sinal de que tal pessoa era um adorador de Javé (Jeremias 4:2) e, por isso, era algo digno de louvor. Uma razão mais profunda para tal proibição (de não tomar o nome de Deus em vão), pode ser vista no fato de que Deus era a única realidade viva para a mentalidade israelita. É por isso que o seu nome era sempre envolvido nos votos e juramentos, normalmente na fórmula “tão certo como vive o Senhor” (2 Sm. 2:27). Usar tal frase e depois deixar de cumprir o voto era questionar a realidade da própria existência de Deus” (veja Eclesiastes 5:2-5).

Sendo assim, percebemos que usar o nome de Deus em vão, não se restringe, como se compreendia no judaísmo mais recente, tão somente ao uso impensado e irreverente da palavra “Javé”. Mas envolve, sobretudo, um comportamento e uma ética que não estão de acordo com as qualidades de Deus, mas atribuídos a Ele ou supostamente apoiados por Ele.

Portanto, tomar o nome de Deus em vão significa valer-se de Seu precioso e incomparável Nome para, de forma irreverente e condenável, promover a mentira, a injustiça, enfim tudo o que é mal. Segundo C. Mesters “a pior coisa que se pode fazer é invocar o Nome do libertador Javé para justificar e reforçar a opressão e exploração do povo. Quem faz isto, inverte a ordem das coisas. Ele usa o nome de Deus para o que é vão.”

No terceiro mandamento exige-se que o Nome de Deus, os seus títulos, atributos, ordenanças, a Palavra, os sacramentos, a oração, os juramentos, os votos, suas obras e tudo quanto por meio do que Deus se faz conhecido, sejam santa e reverentemente usados em nossos pensamentos, meditações, palavras e escritos, por uma afirmação santa de fé e um comportamento conveniente, para a glória de Deus e para o nosso próprio bem e de nosso próximo.

O terceiro mandamento refere-se à maneira de adorar, que seja com toda a reverência e seriedade possível. Os votos falsos são proibidos. Toda menção leviana de Deus e toda maldição profana é uma horrível transgressão deste mandamento. Não importa se são usadas palavras com ou sem sentido. Toda piada ou gracejo profano com a Palavra de Deus, Seu Nome e todas as coisas sagradas violam este mandamento, e não há proveito, prazer e honra nisto. O terceiro mandamento proíbe o uso do nome de Deus a serviço da incredulidade e da mentira. Apelar para o nome de Deus para apoiar nossa falsidade provoca juízo certo. Aqui também se vê o poder moral que o nome de Deus tem na vida dos cristãos, levando-os a viver de um modo digno (Efésios 4:1) e isto é não tomar o nome de Cristo em vão. Ter um mal testemunho é de fato fazer com que o nome de Deus seja blasfemado (Romanos 2:24). Quando Jesus nos ensinou a oração do "Pai nosso", uma das frases é “santificado seja o vosso nome”, querendo dizer com isto que nosso modo de proceder deve ser santo assim como Ele é santo! O nome de Deus é respeitado pelos de fora de acordo com nosso comportamento e testemunho!

Enquanto que o primeiro mandamento fala da unidade de Deus, o segundo fala de Sua espiritualidade e o terceiro da Sua divindade ou essência. No primeiro somos proibidos de fazer que Deus seja um entre muitos quando Ele é o único; no segundo de O igualarmos a uma imagem corruptível, quando Ele é o Espírito incorruptível; no terceiro de identificá-lo de qualquer modo com a criatura, quando Ele é o Criador. A primeira lei nos instrui que Deus deve estar em primeiro lugar, a segunda que nós tenhamos uma imagem correta dEle, e a terceira , que se pense dEle da maneira correta. Cada pessoa é o que ela pensa! Os pensamentos das pessoas transparecem em seu semblante. Marco Aurélio disse: “Nossa vida é aquilo que nossos pensamentos a tornam”. Por isso tão conveniente é o que Paulo nos ensina em Filipenses 4:8! Hawthorne conta a história de um menino de nome Ernest, que gostava de contemplar um imenso rosto de pedra na encosta de uma montanha. A face tinha uma expressão de grande força, bondade e honradez, que fazia vibrar o coração do garoto. Havia uma lenda que dizia que, no futuro, surgiria naquele lugar um homem que se pareceria muito com o rosto de pedra. Durante sua infância, e mesmo depois de adulto, Ernest sempre fitava aquela figura, aguardando o aparecimento do homem que seria semelhante à imagem. Certo dia, quando o povo da localidade estava conversando a respeito da lenda, alguém de repente exclamou: “Olhem! Vejam só! Ernest é o homem que se parece com o grande rosto de pedra!” Ele se tornara na imagem que ocupava seus pensamentos.

O terceiro mandamento ordena que alimentemos nossa mente com conceitos elevados acerca de Deus, que nos inspirem e nos levem a reverenciá-lo. O apóstolo Paulo nos diz: “Tudo o que é verdadeiro... respeitável... justo... puro... amável... tudo que é de boa fama... seja isso que ocupe o vosso pensamento.” (Filipenses 4:8). Estes elementos são atributos divinos. Pensar em Deus nos edifica, nos eleva, e nos torna mais semelhantes a Ele.

Existem pelo menos três modos de profanarmos o nome de Deus. Primeiro, por nossa linguagem. Nós temos hoje várias manias, mas a mais comum é a mania de praguejar. É impressionante como a linguagem atual está cheia de abusos. A palavra diabo, por exemplo, tem sido usada e abusada. Diz-se: “Foi uma correria dos diabos!” O diabo é de origem ímpia, e não devemos encher a nossa mente com ele nem com conceitos a seu respeito, pois isto degrada nossa alma. A palavra “profano” vem do latim profanus; pro significa “diante, perante”, e fanum, “templo”. Um termo profano, portanto, é o que não se usa num templo, o que não deixa de ser uma boa maneira de guiar a nossa linguagem.

O segundo modo de tomarmos o nome de Deus em vão é não temê-lo. Nós todos admitimos a existência de Deus, mas nossa fé é simplesmente “da boca para fora”. Jesus disse certa vez: “Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica...” (Mateus 7:24). Falar a respeito de Deus e não viver segundo Ele, é uma profanação pior do que a prática da linguagem obcena. A fé que não opera uma transformação radical na vida de quem a possui é pura hipocrisia e engano. Uma fé vazia e sem significado pode ser pior que uma total falta de fé.

Outro modo pelo qual tomamos o nome de Deus em vão é nos recusando a ter comunhão com Ele ou receber seu auxílio. Se eu digo que certo homem é meu amigo, mas nunca tenho qualquer contato com ele, nem peço sua ajuda, então estou sendo falso ao chamá-lo de amigo. Se acredito na competência de um determinado médico, logicamente recorrerei a ele, quando estiver doente. Entretanto, quando Adão e Eva pecaram, fugiram e se esconderam de Deus. Desde então, seus descendentes vêm fazendo o mesmo. A mancha do pecado é uma realidade em nossa vida. Só existe uma pessoa que pode perdoar o pecado e, se nós deixarmos de orar, se fecharmos a Bíblia, se voltarmos as costas ao seu altar, estaremos cometendo a pior profanação possível. Nós erramos, e nossa consciência nos condena a um inferno terrível do qual não podemos escapar. Depois nos lembramos de que “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 João 1:9). Então, humildemente, nós nos prostramos diante dEle, e recebemos o Seu perdão. Passamos a então viver para Ele e de acordo com Seus preceitos.



2. Porque o nome de Deus não pode ser tomado em vão? - “...porque o Senhor teu Deus não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão.” À luz do tópico anterior vimos que, o tomar o nome do Senhor em vão, constitui-se numa terrível afronta ao Deus santo, justo e temível, que não suporta a iniquidade. Esta atitude pecaminosa proibida no terceiro mandamento consiste em: “não usar o nome de Deus como nos é requerido e o abuso no uso dele por uma menção ignorante, vã, irreverente, profana, supersticiosa ou ímpia, ou outro modo de usar os títulos, atributos, ordenanças, ou obras de Deus; a blasfêmia, o perjúrio, toda abominação, juramentos, votos e sortes ímpios; a violação dos nossos juramentos e votos, quando lícitos, e o cumprimento deles, se por coisas ilícitas; a murmuração e as rixas, as consultas curiosas, e a má aplicação dos decretos e providência de Deus; a má interpretação, a má aplicação ou qualquer perversão da Palavra ou de qualquer parte dela; as zombarias profanas, questões curiosas e sem proveito, vãs contendas ou a defesa de doutrinas falsas; o abuso das criaturas ou de qualquer coisa compreendida sob o nome de Deus, para encantamentos ou concupiscências e práticas pecaminosas; a difamação, o escárnio, vituperação, ou qualquer oposição à verdade, à graça e aos caminhos de Deus; a defesa da religião por hipocrisia ou para fins sinistros; o envergonhar-se da religião ou o ser uma vergonha para ela, por meio de uma conduta inconveniente, imprudente, infrutífera e ofensiva, ou por apostasia”. Todos os que praticam esses pecados estão sob o juízo de Deus, porque “o Senhor é Deus zeloso e vingador, o Senhor é vingador e cheio de ira; o Senhor é tardio em irar-se, mas grande em poder, e jamais inocenta o culpado” (Naum 1:2,3; Gálatas 6:7). No Salmo 50 é descrito o juízo de Deus sobre os que não levam o Seu nome a sério. Nos versículos 16 e 17 o Senhor indaga: “De que te serve repetires os meus preceitos e teres nos lábios a minha aliança, uma vez que aborreces a disciplina, e rejeitas as minhas palavras?”

É oportuna a recomendação de Hebreus 12:28,29: “... retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temos; porque o nosso Deus é fogo consumidor.” Tal conduta não expõe o nome de Deus, pelo contrário, o honra. Precisamos, portanto, ser cuidadosos quanto ao que falamos e fazemos (Colossenses 4:5,6; Mateus 5:16).

Carlos Mesters ressalta o seguinte: “Depois da ressurreição, Jesus recebeu um novo Nome que está acima de todo nome (Filipenses 2:9). O novo nome de Jesus é SENHOR (Filipenses 2:11; Atos 2:36). Senhor é a maneira como os seguidores de Jesus, os primeiros cristãos, o chamavam. A palavra grega “kurios” que é traduzida por senhor era usada apenas para o imperador, César. Portanto, quando diziam que Jesus era kurios, houve uma grande choque.

3. Como podemos honrar o nome de Deus? - a prática do terceiro mandamento exige de nós uma conduta, através da qual, o nome de Deus seja respeitado, exaltado e honrado. É precisamente isto que o apóstolo Pedro recomenda: “Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais que fazem guerra contra alma, mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação” (1 Pedro 2:11,12).
O nome de Jesus é poderoso, pois está acima de todo o nome (Filipenses 2:9; Efésios 1:21). Por meio deste Nome temos a salvação (1 João 5:13; Romanos 10:13), os pecados são perdoados (1 João 2:12), os enfermos recebem a cura (Tiago 5:14), pregamos o evangelho (2 Coríntios 5:20), recebemos os dons e ministérios (Romanos 1:5), temos poder contra os espíritos malignos (Atos 16:18), podemos orar em seu Nome e temos a alegria completa (João 16:24), recebemos o Espírito por causa do Nome (João 14:26), nos tornamos filhos de Deus (João 1:12), por causa do Nome de Jesus somos perseguidos e afligidos (Lc. 21:12) e neste Nome devemos viver e moldar nossa conduta (Colossenses 3:17; Romanos 11:36). Mas não basta dizer “Senhor! Senhor!”, antes é preciso praticar a vontade do Pai (Mateus 7:21), vivendo de modo digno perante este Nome, honrando-o, adorando-o e servindo-o! Através desta coerência entre o falar e o viver, honramos a Deus e evitamos o perigo de tomar o Seu santo nome em vão.

a) As expressões “meu Deus”, “Deus me livre”, “Deus é testemunha”, “juro por Deus”, “pelo amor de Deus” são frequentes em nosso meio. Tais expressões podem significar o uso do nome de Deus em vão?

b) Que atitudes comuns entre o povo de Deus hoje podem ser considerados como uso em vão do nome de Deus?

c) Você acha que a igreja dá a devida atenção ao terceiro mandamento?



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